28/08/2017

Morando de aluguel

Quando te fiz de minha morada
Fui avisada pelo inquilino
 dos defeitos do espaço
Que às vezes o disjuntor monofásico
não suportaria tanta energia
E eu teria que tomar banhos frios
Que chegaria o momento
 em que o gás não chegaria da rua
Então eu passaria fome
Que em dias de chuva
goteiras iam se espalhar
Molhando as páginas dos meus livros
Borrando suas dedicatórias
até se tornarem ilegíveis
E não me deixando dormir
E que, diziam as más línguas
Havia um fantasma preso nas paredes
que periodicamente
visitaria meu silêncio
...
Mesmo assim, assinei o contrato
Aceitei os móveis com cupim
E o sofá manchado por perversões
Coloquei minhas caixas e malas em um canto
E preparei um colchão para embalar meu sono
Acostumei-me a sapatear nos azulejos desencaixados
E a rir do som que fazem
Comecei a gostar do rangido da porta de entrada
Que me diz “volte logo” quando saio
E quando vi, ato falhei “minha casa” numa roda de conversa
...
Moro em ti tem umas semanas
Mas até hoje não descarreguei  totalmente as minhas coisas
Temo colocar meus porta-retratos
E o mofo consumir as fotos reveladas com parcimônia
E burocraticamente
tiro uma peça ou outra das caixas
Para ver como a casa se ajusta
...
Não posso chamar-te de lar
Nem chamar amigos e parentes para festejar em ti
Pois o nome que vem na conta de luz

Ainda não é o meu.

2 comentários:

Oi questionador,comente,dê sua opinião,por favor,sendo respeitoso com todo mundo.Precisamos de um mundo com mais amor e respeito,e isso começa com a sua atitude :)