Larissa estava em
mais uma festa, se servindo de outro corpo de um ponche forte demais,
ouvindo a mesma playlist de hits da semana, quando ele chegou acompanhado da namorada, a viu
e sorriu.
“Fudeu” apareceu
em neon na sua telinha mental enquanto
ele se aproximava. Chacoalhou a cabeça
para desembotar os olhos, as primeiras testemunhas de uma futura ressaca.
Ela, nascida e criada no Rio, dava dois beijinhos.
Ele, paulistano, se reservava para um só, sem estalo.
Era óbvio que os costumes adquiridos desde a infância iam
trai-la, e acidentalmente beijaria o
canto da boca dele por mais tempo do que deveria, enquanto a namorada dele a
encararia como se quisesse transforma-la
em uma estátua de pedra. Talvez ela quisesse mesmo.
Envergonhada, fingiu
que nada aconteceu e igualmente ele fingiu
que a relação havia se resumido a pequenas trocas de cumprimentos no
corredor, e não o complexo compartilhamento de fluidos e gemidos que realmente
fora. Ela ignorava os frames que sua mente teimava em passar, especialmente
daquela vez em que num canto escuro de um condomínio, ela o surpreendeu se
ajoelhando e abaixando o zíper dele...
Talvez seu “olá” tenha sido alto demais, e sua saia comprida de menos, mas a namorada a
olhava com cara de nojo. Parecia uma dessas meninas que, sabendo do vasto
histórico do companheiro, ficam sempre em alertas, como um cão de caça de
batom, esperando a próxima vadia que irá tirar seu príncipe delas.
Vadia, Larissa até aceitaria ser considerada. Mas conhecia
demais o rapaz para atribuí-lo o título de “príncipe” sem dar uma risada de
deboche.
O rapaz apresentou sua namorada, que tinha um nome tão comum
que Larissa esqueceu dois segundos depois.
Com a boca ocupada demais pela fumaça do cigarro que não tragava, a namoradinha não
havia sequer lhe dado um “oi”. Ela estendeu o cigarro, oferecendo um trago, e
Larissa se sentiu traidora dos pseudo cults (desses que acham que é preciso se
matar pra saber escrever) ao recusar,
afirmando que havia parado. O rapaz lhe
deu um tapinha nas costas dizendo “isso ai, fumar faz mal” enquanto pegava o
cigarro da namorada e dava um trago. Riram os três a vergonha do reencontro.
Dizem que quando nos deparamos com situações de risco, temos
ou a reação de luta ou de fuga. Larissa que
nunca se definiu como corajosa, resolveu
se desvencilhar da sétima situação bizarra que tivera durante a semana. Buscava
a forma menos constrangedora possível:
- Ah, eu vou ali no banheiro, bebi demais...
Obviamente, não atingiu o objetivo.
Correu para um banheiro vomitado e fedendo a maconha, onde
tentava não pensar em todas as fodas homéricas que seu ex casinho e ela
tiveram.
“Ele seguiu a vida, Larissa. E você ai, parada no tempo,
buscando alguma coisa substancial e só tendo merda na sua vida. Lei da atração,
Larissa. Semelhante atrai semelhante.”
O choro borrou levemente seu rímel. Respirando fundo, saiu
do banheiro decidida a ser o que sempre fora: a divertida. A garota de one night
stand. Aquela que todos adoram.
“E quem me ama?” perguntou pra si mesma, depois o segundo shot de tequila.
Não sabia, Os humanos odeiam não saber. Larissa resolveu
então ignorar o impulso questionador bebendo mais um shot.