De madrugada acordei de um sonho e quis verbaliza-lo.
Ao meu lado, o vazio era
explicitado em marcas deixadas no lençol.(era um prelúdio, mas eu não sabia)
Virei para o outro lado. Ela estava fumando seu cigarro
e olhava a rua, se apoiando no peitoril da janela.
Enquanto eu observava as curvas dela, cuja pele negra
reluzia ao suave toque das luzes da rua, que entravam sorrateiras pelo nosso
quarto de hotel, ela tragava seu cigarro, e observava as espirais que o vento
formava da fumaça que soltava. Ela era a síntese de uma mulher bukowskiana e eu
era a imagem escarrada de um beatnik fracassado.
Ela sentiu que estava sendo observada, e virou-se para mim.
Os seios desnudos eram grandes, e costumavam se espalhar quando deitava como as
ondas costumam fazer ao chegarem à areia.
Dos lábios já sem batom escapava o sorriso cínico da minha mais velha
amiga. Porém, o que matava mesmo eram os olhos dela. A escuridão de fora
invejava a negritude daquela íris. Ela
era o próprio abismo olhando de volta para ti. E era impossível parar de olhar.
“Sonhei com você” quebrei o silêncio.
Aproximou-se e sentou na beirada da cama, fazendo o colchão
afundar levemente, cedendo ao seu peso. Olhou-me com curiosidade.
“O mundo estava escuro, e ninguém sabia qual caminho tomar,
acidentes ocorriam por toda parte. Mas de repente, o sol surgiu, e era você,
espalhando raios de luz pra todo mundo”.
Ela me perguntou o que eu achava que significava
“Acho que meu inconsciente percebeu a importância que você tem
na minha vida, meu amor”. ’Respondi, enquanto tomava suas mãos nas minhas.
“Sabe, sei que não tenho muito a lhe oferecer”. “Mas eu
estou buscando ser alguém na vida” beijei cada um de seus dedos "e aqui está uma promessa”.
Eu tirei um anel que me custou cerca de 50 reais que eu não tinha.
Uma representação da minha doação. Ela sabia que eu estava desempregado. O
rosto de espanto dela acelerava meu coração. Ela não respondeu minha pergunta implícita,
a não ser com uma ação explicita de se enfiar nos lençóis e recomeçar com muito
mais fervor o que passamos a noite anterior fazendo. Dormimos abraçados, inebriados
pelas sensações que a união dos corpos causava.
O azulado de um amanhecer temperava as paredes brancas do
quarto, quando ela vestiu sua calcinha e subiu o zíper do vestido.
Escreveu “desculpe”
num guardanapo sujo, e colocou o anel em cima dele.
Desviando das garrafas
vazias no chão, foi embora, levando consigo meu sol e me deixando mais uma vez perdido.
0 comentários:
Postar um comentário
Oi questionador,comente,dê sua opinião,por favor,sendo respeitoso com todo mundo.Precisamos de um mundo com mais amor e respeito,e isso começa com a sua atitude :)