27/08/2016

Escuridão

De madrugada acordei de um sonho e quis verbaliza-lo.
Ao meu lado, o vazio era explicitado em marcas deixadas no lençol.(era um prelúdio, mas eu não sabia)
 Virei para  o outro lado. Ela estava fumando seu cigarro e olhava a rua, se apoiando no peitoril da janela. 
Enquanto eu observava as curvas dela, cuja pele negra reluzia ao suave toque das luzes da rua, que entravam sorrateiras pelo nosso quarto de hotel, ela tragava seu cigarro, e observava as espirais que o vento formava da fumaça que soltava. Ela era a síntese de uma mulher bukowskiana e eu era a imagem escarrada de um beatnik fracassado.
Ela sentiu que estava sendo observada, e virou-se para mim. Os seios desnudos eram grandes, e costumavam se espalhar quando deitava como as ondas costumam fazer ao chegarem à areia.  Dos lábios já sem batom escapava o sorriso cínico da minha mais velha amiga. Porém, o que matava mesmo eram os olhos dela. A escuridão de fora invejava a negritude daquela íris.  Ela era o próprio abismo olhando de volta para ti. E era impossível parar de olhar.
“Sonhei com você” quebrei o silêncio.
Aproximou-se e sentou na beirada da cama, fazendo o colchão afundar levemente, cedendo ao seu peso. Olhou-me com curiosidade.
“O mundo estava escuro, e ninguém sabia qual caminho tomar, acidentes ocorriam por toda parte. Mas de repente, o sol surgiu, e era você, espalhando raios de luz pra todo mundo”.
Ela me perguntou o que eu achava que significava
“Acho que meu inconsciente percebeu a importância que você tem na minha vida, meu amor”. ’Respondi, enquanto tomava suas mãos nas minhas.
“Sabe, sei que não tenho muito a lhe oferecer”. “Mas eu estou buscando ser alguém na vida” beijei cada um de seus dedos  "e aqui está uma promessa”.

Eu tirei um anel que me custou cerca de 50 reais que eu não tinha. Uma representação da minha doação. Ela sabia que eu estava desempregado. O rosto de espanto dela acelerava meu coração. Ela não respondeu minha pergunta implícita, a não ser com uma ação explicita de se enfiar nos lençóis e recomeçar com muito mais fervor o que passamos a noite anterior fazendo. Dormimos abraçados, inebriados pelas sensações que a união dos corpos causava.

O azulado de um amanhecer temperava as paredes brancas do quarto, quando ela vestiu sua calcinha e subiu o zíper do vestido. 
Escreveu “desculpe” num guardanapo sujo, e colocou o anel em cima dele. 

Desviando das garrafas vazias no chão, foi embora, levando consigo  meu sol  e me deixando mais uma vez perdido.



09/08/2016

Menino brincando com fogo

Na aula não vai
                abstrai
            se distrai

Mas num dia estava
 O professor explicava

"...a cor de uma chama depende do comprimento de onda que os fótons formarão. O tamanho por sua vez , depende da quantidade de energia..."

Devaneios de jovem poetero
Movido mais pelo tesão que pela arte
Escreveu em azul no caderno
Marcando um tímido poema:

"Enérgica ela é pequena!
E pequena, ela é azul!
E conter tanta energia
Num espaço tão pequeno
É garantia de um calor gostoso
Que aquece e nutre"

Achou pós-moderno
Poesia, em azul no caderno
Mas sincero?
Um tanto bobo, um tanto ruim
Frio, muito frio
Longe dela

E arrancou do caderno a folha
E como um bom moleque
Fez um avião
E jogou no ar
            Sua arte
             Sua chama
             Seu azul.


Ela era quente demais pra ele, de qualquer forma.

Falsificação

Paga no cartão
Em 10x sem juros
A jóia para a amante

Arranca seus pelos
Gorduras
E peles
Já flácidas

Desenha seu rosto
Com tintas
Dramáticas

Para voltar a ser amada

Mas o amor, como o batom vermelho
Esta desbotado
E fora da validade

Desmancha a pintura
Em lágrimas de água
 sanitária
Pois teu choro é
descarga
Tua tristeza
explosão
Teus sentimentos sao canais
Da mais pura  e bela
podridão

Um limbo monetário
Cheio de valores
platônicos
Aprisiona com seus cifrões
a sanidade

E em vestidos
Bolsas channel
E doces finos de coquetel
Em conhaque
E em camas de motel
Eles fingem que são algo mais vivo
Do que notas de cem