27/05/2015

Nós dois

Eu passei um período sem escrever pois acreditei que estar viva era incompatível com ser escritora. Acreditei que todo escritor precisasse cultivar uma ideia de morte e de efemeridade para ter boa escrita. E eu vivi, e nesse período que resolvi viver eu o conheci. E no meio dessa estrada tortuosa, cheia de altos e baixos que é o relacionamento de duas pessoas, os sentimentos não expressados foram se acumulando, até que resolveram bater a minha porta. E eu deixei eles entrarem. 
Inspiração é algo engraçado, é dessas mulheres que você demora anos pra conquistar mas pode perder em segundos. Temos que valorizar as vezes que ela nos aparece, mesmo que o momento não seja propício. 
Apesar de não considerar esse um dos melhores que escrevi, um pouco curto demais e um pouco lugar-comum fiquei muito feliz por voltar a escrever.Pois quando você dá voz a Inspiração, ela não vai parar de falar tão cedo.

 Aproveitem :)

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Minhas costas estão coladas na parede fria, enquanto meu peito está colado no dele, que é quente. Essa diferença térmica causa uma corrente no meu estômago, causando as tradicionais borboletas que fazem turbilhões na boca do estomago. Admito que elas não sejam as únicas causadoras, e rapidamente lembro-me da garrafa de Montilla que agora jaze vazia no chão.
Ele se posiciona entre minhas coxas, e eu sinto a vontade de que zíperes e botões deixem de existir. Dois tontos e perdidos, tentam se achar um no outro.
Seus braços me envolvem enquanto minha cabeça dói e o gosto do excesso permanece na minha boca, e fitando teus olhos negros, que tudo absorvem sem nada devolver, eu afundo cada vez mais nessa areia movediça que são seus pensamentos.
E mesmo assim me sinto segura
E eu quero gritar que sou minha, quero exorcizar-me da culpa, mas da poeira dos pensamentos que jogo pra debaixo do tapete ele surge e cutuca a ferida, para depois secar minhas lágrimas, e dizer da forma mais aleatória possível que me ama.
E eu, com essa minha forma científica de pensar, sempre querendo provas, passo horas me interrogando se estou apostando todas as fichas numa ilusão. Mas agora, com a cabeça enterrada em seu peito, ouvindo seu coração fazendo um carnaval aos meus ouvidos, e com a respiração ritmada, eu quase me sinto o próprio Universo, tendo espalhadas pelo meu corpo várias supernovas, que numa destruição, criam.
E você diz que me ama.

E eu acredito.