Nota da autora: Quero dizer, antes de tudo, que esse texto é um desabafo. Não estava gostando do rumo que minha vida estava levando, então resolvi tomar as rédeas do meu destino, e me reescrever por inteiro. Só que não poderia seguir em frente, tendo tanta coisa presa na garganta. Resolvi jogar tudo que quero esquecer nesse texto.
Ignoro a vida comendo porcaria, mas a família supostamente está
de dieta e só tem frutas na geladeira. Pego uma maçã qualquer e ao morder descubro
que esta está podre. Cuspi assim que senti o gosto de morte. Fui para a janela,
tentar capturar um ar puro, e engasguei com o cheio de fumaça que veio de um monte
de lixo sendo queimado.
Agora sinto cheiro e gosto de podre.
E esse mesmo gosto está na rotina e no hábito de abrir a
geladeira ou de fumar mais um cigarro. Está em ligar a televisão num jornal sensacionalista,
na insônia ou no hábito de olhar pela janela.
“Uma queda pode ser livre”.
É o que penso enquanto me seguro no peitoril da janela. E
sem os óculos, sinto a vertigem se apoderar da mente. Gosto da vertigem. Desde
criança me divertia girando sem parar até cair tonta na cama, sendo capaz de
sentir a rotação da terra. Quando cresci provei o torpor engarrafado legalmente, de forma ilegal, como a maioria dos principiantes.
E mesmo com tanto torpor para esquecer, a gente vê o diabo em
toda parte e não só nos detalhes.
A podridão exala e do 14° andar do prédio onde vivo o cheio
me sufoca.
O mundo fede pelas mentiras, pela corrupção de cada dia, pela
fome do pão que nunca vem. A morte possui o mundo quando a noite chega, e com
seu manto negro nos cega e desnorteia.
E eu analiso o mundo como se não fizesse parte dele.
Mas eu sou.
E dói não ser tão diferente de uma maçã apodrecida.